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Famoso comício pelas Diretas no Anhangabaú em abril de 1984 |
Luís
Alberto Alves
Começo da década de 1980, época
de inflação alta, geralmente 40% ou até 60% por mês. Naquela época, na flor dos
meus 20 anos acompanhei o nascimento do PT. Considerado por nós como um partido
jovem, sem vínculo com a velharia de outras agremiações. Muita energia. Assinei
minha filiação ao diretório de Vila Madalena, bairro boêmio da Zona Oeste de
Sampa.
Veio a primeira eleição para governador após
decretação da anistia, em 1979. O candidato foi o Lula. Fazia comício de boné
na cabeça, turbinado nos discursos de linha sindicalista. Panfletagem, pintura
e colagens de cartazes nos muros eram feitas em ritmo de animação. Ninguém recebia
um centavo. Pelo contrário, através de rifas e bingos tirávamos dinheiro do
bolso para ajudar a candidatura de outros companheiros.
O PT ganhou a única prefeitura em SP, na
cidade de Diadema, região do ABC. Lógico, a elite tirou a forra na gozação. A luta
prosseguiu. No primeiro comício pelas eleições diretas, diante do estádio do
Pacaembu, num mês de agosto de 1983, conseguimos reunir bastante gente,
enchendo a Praça Charles Miller.
Poucos levaram a sério a mobilização. Logo
começou engrossar até chegar o mês de abril de 1984. O Vale do Anhangabaú virou
um mar de manifestantes, com a Praça Ramos de Azevedo e o Viaduto do Chá tomado
pela multidão. Ao lado de outros colegas bancários, saímos da Avenida Paulista,
onde hoje é a sede do espanhol Santander, na época matriz do banco Real, e
fomos em passeata até o Anhangabaú.
Diversos políticos discursaram. A maioria
raposa velha como o falecido Ulysses Guimarães, Leonel Brizola e o próprio
Tancredo Neves. A massa queria ouvir o Lula. Ele mandou brasa, colocando fogo
na multidão. Já era noite. Mas ninguém estava preocupado com o horário. O legal
da história era estar ali. No outro dia o Jornal da Tarde publicou uma página
inteira com a foto de mais de 800 mil pessoas assistindo ao comício.
Na votação da Emenda Dante de Oliveira, o
general Newton Cruz, recebeu ordens do ditador João Batista Figueiredo para
tachar de subversivo quem vestisse qualquer peça de roupa amarela naquele dia
24 de abril de 1984. No banco onde trabalhava, a maioria ignorou e vestiu uma
peça amarela. As mulheres usaram broches, lenços e até pulseiras.
O projeto de eleição direta não passou. A capa
do dia 25 de abril, toda preta do Jornal da Tarde, refletia a dor do
brasileiro, inclusive a minha. Quase chorei. Senti como o time querido de
futebol perdendo o título. Dois anos antes, a Seleção Brasileira tinha perdido
da Itália na Copa do Mundo da Espanha, com um dos melhores times após o
esquadrão de 1970.
Mesmo assim continuei gostando do PT. Chegaram
as eleições de 1989, as primeiras diretas para presidente da República.
Novamente o estádio do Pacaembu entra em cena. O famoso comício antes do
fatídico debate da Rede Globo contra o então caçador de marajás, Collor de
Mello. A edição criminosa do Jornal Nacional favoreceu o preferido da elite na
época. Lula perdeu a eleição. Outra ducha de água fria.
Na década de 1990 só deu PSDB, com Fernando
Henrique Cardoso ganhando a presidência do Brasil duas vezes. Soube tirar
proveito do Plano Real derrubando uma hiperinflação de 2.450% ao ano para
praticamente zero por cento. Já estava perto dos 40 anos, quando deixamos de
acreditar em fantasias e colocar os pés no chão. Não era mais bancário, mas
jornalista.
A década de 2000 caiu no colo do PT. Lula
ganhou duas vezes para presidente. Percebi que em nome da governança, já não
era mais o candidato do início da década de 1980. Passou a fazer aliança com o
lado mais podre da política brasileira, não ficando de fora José Sarney, Jader
Barbalho, Quércia e até Antônio Carlos Magalhães. Tudo em nome da governança.
Velhos aliados como Plínio de Arruda Sampaio,
Airton Soares, Luiza Erundina, Hélio Bicudo e outros nomes de peso no partido
começaram a sair do PT. Aos poucos surgiam comentários de corrupção envolvendo
parlamentares petistas. Mas para abafar o caso, Lula entrava em campo e dizia
que era manipulação da grande imprensa.
Agora do outro lado do balcão passei a
perceber que não era bem assim. O partido já tinha seus ladrões. Nas coletivas
de imprensa ouvia colegas de outros jornais e emissoras de televisão comentando
casos suspeitos. Chegamos ao mensalão. E a sujeira veio à tona. Como disse
Jesus Cristo: “nada há de oculto que não seja revelado”.
Mesmo assim, Lula conseguiu emplacar o segundo
mandato escorado no carisma. Já não sentia a mesma atração pelo partido que vi
nascer. Numa cerimônia em Brasília presenciei Lula demolindo a sua ex-ministra
de Meio Ambiente, Marina Silva, em prol de Dilma Rousseff, na época na pasta
das Minas e Energia. Ali percebi que o PT estava igual aos partidos que ele
tanto criticou.
Era disputa apenas pelo poder. Não interessava
os meios para chegar. Tudo valia a pena. Até se corromper, aparelhando as
estatais com dirigentes sem nenhuma capacidade técnica. Para aprovar projetos
de lei, a mala de dinheiro entrava em ação e aumentou o balcão de negócios do Congresso Nacional.
Portanto não fiquei espantado com a atual
crise enfrentada pelo PT. Nem muito menos por que parte da população o deixou de
lado. A maioria dos eleitores não acredita mais nas desculpas esfarrapadas de
perseguição da grande mídia. Ela percebeu que o partido virou um almoxarifado
cheio de bandidos de colarinho branco, igualzinho ao existente no PMDB, PP, PR,
DEM e outros.
Lula perdeu o carisma de grande líder
conquistado na porta das fábricas do ABC paulista. Ao se aliar com as raposas
velhas da política brasileira jogou no lixo a reputação conquistada embaixo de
muita luta. Seus discursos não entusiasmam mais ninguém. Apenas meia dúzia de
fanáticos que trabalham em alguma prefeitura ou ministério petista. A claque
paga. Perdeu a chance de permanecer em silêncio após dirigir o Brasil duas
vezes.
Caso insista em retornar nas eleições de 2018
vai tomar tremenda lavada nas urnas. Não tem mais o carinho dos brasileiros que
um dia fizeram boca de urna, distribuíram santinhos, carregaram faixas e
bandeiras e até perderam amizades sinceras, sem ganhar um tostão. Apenas por
amor a um partido, que havia nascido com a proposta de moralizar a nossa
política. No poder acabou engolido pelo dragão da corrupção repetindo os mesmos
esquemas existentes no Congresso Nacional há décadas. Infelizmente!!!
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