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A responsabilidade individual em meio ao caos estrutural

    Freepik Radiografia da Notícia *Todos esses fatores, sem dúvida, contribuem para a formação de um ambiente propício ao crime *A produçã...

terça-feira, 15 de abril de 2025

A responsabilidade individual em meio ao caos estrutural

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Radiografia da Notícia

*Todos esses fatores, sem dúvida, contribuem para a formação de um

ambiente propício ao crime


*A produção, que retrata com crueza a violência juvenil


*Alguns têm talento para a música, outros para o esporte; há os que

possuem sensibilidade aguçada


André Naves


Muito já se falou, e muito ainda há de se falar, sobre a série

“Adolescência”. A produção, que retrata com crueza a violência

juvenil, já foi esmiuçada sob diversos ângulos: a comunidade hostil, a

educação precária, o bullying, a influência nefasta das redes sociais

e a desestruturação familiar. Todos esses fatores, sem dúvida,

contribuem para a formação de um ambiente propício ao crime. No

entanto, há uma dimensão que tem sido negligenciada nas análises: a

responsabilidade individual.


É verdade que uma sociedade violenta e uma escola falida podem criar

condições para o surgimento de doenças sociais, como a intimidação e a

agressão entre jovens. Mas isso não significa que o indivíduo esteja

fadado a sucumbir a esse ciclo. A individualidade – esse conjunto

único de aptidões, potencialidades e limitações que cada um carrega –

é justamente o que nos permite resistir às piores circunstâncias.

Alguns têm talento para a música, outros para o esporte; há os que

possuem sensibilidade aguçada, e há os que, por enquanto, não

descobriram nenhuma habilidade específica. E tudo bem. A diversidade é

a essência da humanidade.


Vivemos em comunidade justamente porque nossas forças e fraquezas se

complementam. A vida coletiva só faz sentido quando cada um é

respeitado em sua autonomia, em sua capacidade de escolha. E é aí que

entram os Direitos Humanos: não como um escudo para justificar a

irresponsabilidade, mas como um instrumento de emancipação. O

verdadeiro respeito aos Direitos Humanos não está em infantilizar o

indivíduo, tratando-o como vítima eterna das circunstâncias, mas em

reconhecê-lo como protagonista de sua própria história.


Fantoche


Por isso, causa estranheza – para não dizer indignação – ver análises

que transferem a culpa do criminoso para a "estrutura social". Sim, a

comunidade tem sua parcela de responsabilidade. Sim, a escola, a

família e as políticas públicas falharam em muitos aspectos. Mas quem

cometeu o crime, quem alimentou a fogueira do ódio, quem escolheu o

caminho da violência foi o indivíduo, e só ele. Tentar diluir essa

responsabilidade é reduzir a pessoa a um mero fantoche do meio, é

negar sua capacidade de agência. E nada é mais antiético, mais

contrário aos Direitos Humanos do que essa visão que transforma seres

humanos em eternos coitados, incapazes de responder por seus atos.


Direitos Humanos não são – e nunca foram – sinônimo de impunidade.

Pelo contrário: quem é livre para agir deve ser responsabilizado por

suas ações. Essa poderia ser a síntese dos Direitos Humanos e a base

de qualquer sociedade que se pretenda Justa.


P.S.: A série acerta ao retratar as instituições policiais e

judiciárias com equilíbrio. A lei é implacável, mas justa; a repressão

ao crime é eficiente, mas dentro dos limites éticos. É assim que se

faz segurança pública: sem abrir mão dos Direitos Humanos – porque, no

fim das contas, o maior direito de todos é viver em uma sociedade onde

cada um tem a Liberdade de responder por suas escolhas.


André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP,

especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia

Política pela PUC/SP.




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