O Brasil é um país de contrastes
Redação/Hourpress
Um dos balanços possíveis de se fazer após a realização da
25ª. edição do Agrishow, em Ribeirão Preto, SP, a principal feira de
tecnologias voltada para o agronegócio, que se encerrou no início de maio deste
ano, é que foi um evento onde a palavra conectividade esteve em grande parte
das conversas e dos estandes. Quase todas as empresas tinham algum produto,
equipamento, aplicativo que se destinava a conectar uma máquina com outra ou
com o computador do escritório ou mesmo aos smartphones. E é impressionante
perceber o veloz crescimento no número de startups ou de empresas já longamente
estabelecidas, que ofereciam seus serviços, sempre com a premissa de conexão
via Bluetooth, internet, satélite ou alguma outra solução semelhante.
E isto é extraordinário, fantástico porque boa parte desta
tecnologia que está sendo desenvolvida já está incorporada ou em vias de ser
implantada nas máquinas e equipamentos agrícolas. Ou seja, elas, as máquinas,
já estão no mundo digital e isto não tem mais volta. E é possível dizer que
quase não há mais diferença entre os produtos vendidos no Brasil e os que estão
nos EUA ou Europa. E fica difícil conter este pensamento...que mundo fantástico
este!
Mas...e muitas vezes aparece um, mas na vida,
nem tudo é um mar de rosas. E, mesmo quando é, logo nos fazem lembrar que elas
têm espinhos. Conectividade precisa de rede de telefonia móvel ágil, banda
larga de internet, preferencialmente por fibra óptica, para que os dados
transmitidos circulem rapidamente para todas as pessoas que estão precisando
deles. E, é neste momento que, no campo, a banda toca diferente do que toca na
cidade.
Já explico. O Brasil é um país de contrastes. E de regramentos
um tanto estranhos, para dizer o mínimo. Creiam. A população que mora na cidade
e que num clicar de dedo em sua tela touch do celular acessa milhares de
informações, não imagina que esta facilidade não chegou ao campo. Centenas de
propriedades rurais, muitas vezes, só conseguem usar o telefone celular, na
banda 2G, a mais antiga e uma das primeiras a ser comercializadas no País. E só
realizam este feito porque sobem num morro, vão para um descampado ou alguma
outra peripécia do gênero. E já estamos no final da segunda década do século
21.
Veja, se formos pensar que o produto que sai da indústria
chamada campo/fazenda, é o alimento de milhões de pessoas que vivem nas
cidades, não era de ser justamente o contrário ou pelo menos igual? O agronegócio
representa cerca de 40% do total do PIB brasileiro que em 2018 foi de R$ 1,716
trilhão. Vamos considerar que 15% seja produzido por quem vive nas zonas
rurais, longe dos centros urbanos. Não seria justo que os investimentos em
infraestrutura de telefonia principalmente para acesso a rede de dados
(internet) fosse no mínimo igual aos das cidades? Afinal, todos no campo também
querem se conectar de forma ágil para melhorar a comunicação entre si e poder
tratar de negócios, tanto quanto as empresas da cidade, não é?
E para que o campo possa produzir melhor e nos mesmos
níveis de competição que seus concorrentes é preciso ter acesso à internet. E
isto não acontece. E é aí que vem a parte estranha das regras. A
legislação da privatização de telefonia no Brasil permitiu que as operadoras
fizessem instalações das suas redes em grandes centros urbanos, onde há maior
demanda pelos seus serviços, mas não as obrigou a atender da mesma forma as
áreas rurais. Assim, e muitos de vocês já devem ter passado por isto, saiu
alguns quilômetros da zona urbana, você está no limbo, fora do mundo!
Máquinas conectadas – Mas porque falar do problema da telefonia no campo? Porque
boa parte das máquinas agrícolas brasileiras já estão no mundo digital. Cada
vez mais e mais elas incorporam computadores de bordo, sistemas de telemetria,
piloto automático, aplicativos, sensores via satélite que fazem a leitura em
tempo real da situação da lavoura, plataformas de inteligência artificial e uma
infinidade de tecnologias que dependem e muito do acesso à rede de telefonia e
de transmissão de dados, para enviar as informações do campo para o escritório
e vice versa.
E, com isto, dar
rapidez na tomada de decisões sobre as atividades planejadas para aquele turno
ou dia. Afinal, a propriedade rural é um negócio, uma fábrica de alimentos, e
como tal, precisa de agilidade nas suas comunicações para que as ações a serem
tomadas sejam as mais corretas e, por conseqüência, se tenha o produto final
para vender e ter lucro. Não é assim com as empresas que estão nas cidades?
E como ofertar máquinas agrícolas com todas estas
ferramentas se o produtor não puder utilizá-las de forma adequada? Atualmente
os sistemas estão programados para que, quando passar por uma zona que tenha
sinal, o computador se conecte e transmita todos os dados que foram armazenados
até aquele momento, ou então somente no final da jornada, quando a máquina
retorna para a sede da fazenda descarrega os dados via sinal de Wi-Fi direto
para o computador do gestor. Qualquer correção de percurso fica mais difícil de
ser feito em tempo real. E só se terá maior agilidade, maior produção, se
houver acesso à conexão via internet, sem isto, fica difícil.
Por conta desta situação, algumas empresas, por
iniciativa própria, lançaram programas de conexão para o campo. Mas em
realidade, creio que já esta na hora das entidades representativas do
agronegócio, respaldado pelos seus mais de R$ 1,7 trilhão de PIB, pressionarem
o Governo Federal em busca de uma solução e chamarem à mesa as operadoras
de telefonia instaladas no Brasil e outras que queiram se instalar ou competir,
para um encontro com fins específicos de trazer uma solução para este nó.
Afinal, o agronegócio também é um forte consumidor dos
serviços de telefonia e, se este nó não for desfeito, nossa agricultura,
considerada uma das mais modernas em climas tropicais, vai parar no tempo,
porque não vai ter como se comunicar adequadamente. E, creio que, sem conexão,
não tem como aumentar a produção. E sem produção suficiente e eficiente, não
tem alimento para atender o crescimento populacional. Simples assim!
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