Não podemos perder tempo reagindo e desmentindo todo e qualquer absurdo que ele falar
*André
Coelho
Devemos nos preparar, nos
próximos quatro anos, para uma gestão no estilo Trump dos debates e discussões:
Bolsonaro e sua equipe fazendo declarações estapafúrdias na imprensa e nas
redes sociais no primeiro plano, e passando medidas e reformas duríssimas e
gravíssimas no segundo plano.
O objetivo será de que reajamos
ao que for dito no primeiro plano, causando uma guerra de debates e mensagens
entre apoiadores e críticos, diminuindo, assim, o foco de atenção e energia
disponível para fiscalizar e criticar o que se fizer no segundo plano.
Ele vai fazer revisionismo
histórico, criar versões alternativas dos fatos, acusar a imprensa de
persegui-lo e distorcer a verdade, obrigar quem o apoia a entrar cada vez mais
na bolha de realidade alternativa que a acumulação das inverdades for criando e
obrigar quem o critica a ir se acostumando com (e normalizando) a mentira, o
absurdo, o factóide, a declaração incendiária e a irresponsabilidade na
comunicação cotidiana e diplomática.
Não podemos perder tempo reagindo e
desmentindo todo e qualquer absurdo que ele falar. Temos que atentar para as
decisões, as propostas, as nomeações, os projetos encaminhados etc. Atravessar
a cortina de fumaça do primeiro plano (por mais provocativa que ela seja) e
discutir o ponto realmente crucial do segundo plano.
Quem quiser saber mais a
respeito procure por uma estratégia de publicidade e gestão chamada
"firehosing": bombardear a atenção pública com um número tão grande
de factóides absurdos e atraentes de serem discutidos para assim manipular o
senso de realidade e distrair o foco de concentração em relação ao principal.
*André Coelho, professor da UERJ
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